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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Ser músico profissional é...

Olá amigos, tudo bem?

É triste o que vou dizer, mas acaba sendo verdade para a maioria dos músicos no Brasil. Creio que antes de fazer um discurso panfletário, o mais importante a pontuar nossas vicissitudes e, principalmente, de forma crítica e objetiva colaborarmos para mudar o cenário musical brasileiro.

"Música boa é música de graça!!!"

O brasileiro não está acostumado a consumir cultura, ainda mais quando o artista é tupiniquim. Quando é um figurão estrangeiro, não faz diferença se o ingresso é R$ 300,00 ou R$ 1.000,00, "reservo meu 13º salário, viajo 800 Km, perco dois dias de trabalho, mas não deixo de ir".

Quando é artista nacional, "só vou se for evento grande, com muita mulher bonita, cerveja gelada... esse negócio de sentar pra ouvir música, só no carro mesmo..."

Às vezes ouvimos, "se não toca em rádio, não presta. Música boa é a que faz sucesso". Ora, ninguém faz nada de graça... para lançar algo novo, acaba rolando o "jabá". Sem falar que hoje a programação já vem montada de cima pra baixo. As rádios locais, raramente possuem autonomia para decidir o casting.

Outra situação complicada é o fato de que os bares e casas de show, não querem pagar as bandas. Quando muito cobram o couvert artístico. É comum para bandas de rock (principalmente) receber a seguinte proposta, "cara, eu vi um show de vocês e achei muito legal. Tenho um bar e acho que o som da banda vai encaixar perfeitamente na sexta-feira... então... o espaço está aberto pra vocês, só não tenho como pagar cachê... pensa direitinho... é uma ótima oportunidade de vocês divulgarem a banda".

Seria cômico se não fosse trágico. Olha... se tiver algum promotor de eventos lendo este artigo, entenda de uma vez: oportunidade de divulgar a banda só existe em eventos puramente culturais e sem fins lucrativos. Se a proposta é ganhar dinheiro, pague a banda.

Se a notícia espalha, mais bandas irão te procurar para tocar... mais opção de qualidade e variedade você terá para sua casa de show ou futuros eventos.


Creio que o problema vai ainda mais longe... por um lado os proprietários de bares e casas de shows, procuram sempre reduzir seus custos.

Muitas vezes, contratar uma banda reconhecida e com público fiel é inviável. Quando isto for o caso, pior que contratar uma banda de garagem é optar por música mecânica.

Mas também, não sou tolo para despejar a culpa exclusivamente nos empresários do ramo. De outro lado, o público gosta de música ao vivo, mas não quer pagar nada. A Internet inculcou nas pessoas que tudo tem que ser de graça, ou muito barato.

Chegue numa concessionária, cujo carro popular custe R$ 30.000,00 e diga, tenho R$ 5.000,00, é pegar ou largar! É óbvio que nenhum vendedor em sã consciência irá aceitar a proposta.

O trabalho do músico, mesmo o de "bandinhas" tem o seu valor. E não adianta o dono da casa pechinchar. Contudo, o dono da casa é refém de seu público. Se o público não quer pagar para ter um espetáculo de verdade, muitas vezes se recusando a pagar o couvert artístico ao brado retumbante de artigos do Código de Defesa do Consumidor, não será o empresário que vai arcar com isto, aí sobra apenas os cachês ínfimos ou a cerveja.

É duro dizer isto, mas o público é um dos principais responsáveis por esta situação.

Concluindo...  ser músico profissional no Brasil é:

1. Ter que aturar pedidos pra tocar Raul (eu curto Raul, mas na maioria das vezes o seu estilo, repertório não tem nada a ver);
2. Ter que ouvir a desaforada proposta de tocar de graça ou em troca de cerveja, como se fosse a melhor oportunidade da sua vida, ou até mesmo a única;
3. Compor, produzir e gravar um CD durante um ano ou mais, com o som que você acredita, e não ter espaço para tocá-lo. Pior ainda é quando compram seu disco como se tivessem lhe fazendo um favor, ou lhe dando esmola. Afinal, na cabeça de quem compra, música boa ele baixa de graça na Internet;
4. Escutar que seu cachê de R$ 500,00 é caro, quando apenas 1 ingresso daquele popstar internacional pode custar R$ 1.000,00.

Mas não é motivo de desanimar... ou é?

Em contrapartida, se você é músico profissional, aprenda a por preço na sua arte. Ninguém nasce sabendo nada. Certamente, você dedicou anos de sua vida para montar seu repertório e estilo. Se você não der valor à sua arte, ninguém dará!

Um abraço e até a próxima!


Elvis Almeida
http://www.elvisalmeida.com 

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