Índice com todos os artigos da série "A Grande Batalha"
Aprofunde-se mais no tema, lendo todos os artigos sobre o duelo Transistorizados X Valvulados:
Parte 1: A fonte de energia dos amplificadores de guitarra
Parte 2: O Circuito Pré-amplificador
Parte 3: O Circuito de Power (Potência)
O circuito PREAMP
No artigo passado,
expliquei as diferenças básicas existentes entre as fontes
valvuladas e fontes sólidas. Mas agora, chegou a vez de falarmos dos
pré-amplificadores, e a polêmica só aumenta.
A indústria de
amplificadores, de tempos em tempos lança produtos com o seguinte
argumento "transforme seu transistorizado em valvulado"...
"desfrute da poderosa distorção valvulada com este preamp
de 2 canais"... etc.
A verdade nua e crua é
que você irá usufruir de um preamp valvulado, com suas
qualidades e defeitos.
Existem preamps
valvulados de excelente qualidade de fabricação e timbres
fantásticos, mas comprando um deles, você continua com apenas um
pedaço do amplificador valvulado. O power continuará sendo
transistorizado. E é justamente no power, como veremos no
próximo artigo, onde as diferenças entre valvulados e
transistorizados são mais marcantes.
Por isso, o máximo que
irá acontecer é você transformar seu transistorizado em um
híbrido. Então, "não compre gato por lebre", saiba que
ao comprar um pedal/preamp valvulado, você está fazendo um
upgrade no seu preamp, proporcionando uma distorção
valvulada de preamp.
A famosa saturação do
power valvulado e os harmônicos decorrentes de sua forma de
amplificar continuam inexistentes.
Qual a função do preamp?
Ora, o próprio nome
diz qual sua função... qual seja, pré-amplificar.
O sinal que sai da
guitarra é da ordem de alguns milivolts e de baixíssima corrente,
insuficientes para alimentar o estágio de potência do amplificador.
Portanto, a função do
preamp é elevar o sinal da guitarra até atingir o ponto de
excitação do power (quem disse que só as mulheres possuem
ponto G - risos).
Há quase nenhuma
diferença entre um preamp valvulado ou transistorizado quando estes
trabalham sem saturação (ou seja, só eleva o sinal sem alterar o
formato da onda), deixando o som clean com "força"
suficiente para excitar o power.
Neste tipo de
pré-amplificação, ou seja, sem distorção, preamps valvulados e
transistorizados se comportam de forma muito semelhante, exceto
quanto ao fato de que a válvula e transistor amplificam de maneira diferente. Mas se analisarmos o formato da onda
sonora... etc., o resultado é muito parecido.
E quanto ao overdrive?
Aí entra uma questão
até histórica. Quando os primeiros amplificadores foram projetados,
nos primórdios da guitarra elétrica, o que se buscava era
reproduzir o som da guitarra acústica (violão) em uma amplitude
maior. Não se pensava em sons distorcidos.
A distorção foi uma
espécie de "efeito colateral" decorrente da saturação
das válvulas. Especialmente quanto à saturação do preamp
(o verdadeiro overdrive), esta só apareceu porque nos
primórdios da eletrônica, as peças não possuíam alta fidelidade,
e principalmente, que os engenheiros ao fazer seus projetos, tentavam
tirar o máximo de ganho possível de cada válvula, na esperança
fornecer o maior volume (amplitude) possível com o mínimo de
equipamentos, até porque tudo era muito caro e de difícil acesso.
Como funciona o overdrive?
A sobrecarga da válvula
de pré, produz um achatamento no sinal. É como se cortasse um
pedaço da “cabeça” da onda sonora, deixando ela “quadrada”.
Desta forma, para
produzir a distorção de preamp, é necessário aumentar o
ganho até níveis que comece a “cortar” o topo da onda no último
estágio. Por isso, geralmente, a lógica é a seguinte: quanto mais
válvulas de pré, mais estágios de ganho. Mais estágios de ganho,
mais a onda fica quadrada ao final e consequentemente, mais overdrive
é fornecido.
Inicialmente, o
engenheiros tentaram produzir o mesmo efeito com transistores, ou
seja, vários estágios de ganho para gerar a saturação. Porém,
neste caso a deformação ficou diferente daquela gerada com a
válvula.
A solução encontrada
pelos engenheiros para reproduzir a distorção valvulada foi a
utilização de diodos de clipagem. Uma das funções do diodo é
“cortar” o ciclo da onda total ou parcialmente. Na retificação,
por exemplo, ele corta o ciclo negativo (ou positivo) deixando passar
o ciclo oposto, este é o fundamento da “transformação” de
corrente alternada em corrente contínua. Num preamp, o diodo
tem a função de “clipar” a onda, deixando ela quadrada, assim
como acontece com a válvula saturada.
Pois bem, aí surgiu o
overdrive transistorizado, mas seu sucesso não foi nos
preamps. A sua utilização foi muito mais sólida (não podia
perder o trocadilho) nos pedais (stompboxes), seja ligando num
amplificador valvulado clean, ou como boost de ganho
para as saturações valvuladas. Dentre os pedais de overdrive mais
famosos destaca-se os clássicos Ibanez Tubescreamer (TS808 e TS9) e
BOSS Super Overdrive (SD-1).
Então você deve estar
se perguntando...
Ora, se tantos guitarristas usam pedais transistorizados ligados em valvulados, por que não usar um preamp transistorizado?
Esta é uma excelente
pergunta. Na verdade, ainda que a clipagem feita com diodos forneça
uma distorção parecida com a valvulada, ainda não é a mesma. Há
algumas diferenças no formato da onda. E é justamente por estas
minúcias que os guitarristas mais puristas preverem a distorção
valvulada de preamp.
Contudo, é possível
utilizar-se de um preamp transistorizado ligado num power
valvulado e se obter timbres ricos. Acontece que a parte mais cara de
um amplificador de guitarra é a potência. Portanto, ao fabricar um
amp com power valvulado, o custo de fazer o pré também
valvulado encarece pouco o projeto, sendo viável comercialmente
fazê-lo alltube.
Já o raciocínio
contrário, usar preamp valvulado e power
transistorizado, diminui muito o custo de fabricação, por isso,
muitos fabricantes lançaram híbridos neste formato. Contudo, como
será abordado no próximo artigo, o som que consagrou os valvulados
vem do power, fazendo pouco sentido utilizar um híbrido com
etapa de potência solid state.
Existe amplificadores valvulados com diodos de clipagem?
A resposta é sim. Dos
anos 80 até os dias de hoje, verifica-se um progressivo aumento de
ganho nos amplificadores de guitarra. Isto decorre da consagração
de estilos como Trash Metal, Death Metal e seus
sucessores. Um número cada mais maior de guitarristas desejam um
amplificador high gain (em
alguns casos até ultra high gain).
A propósito, cumpre
esclarecer que os amplificadores de guitarra, quanto ao ganho, podem
ser classificados em low gain, mid gain, high gain
e ultra gain (ou ultra high gain).
Como já foi explicado
acima, um preamp 100% valvulado terá mais ganho proporcionalmente ao
número de estágios que tiver. Um válvula 12AX7, por exemplo, é um
duplo tríodo, portanto é possível utilizá-la em 2 (dois)
estágios. Assim, se quisermos 6 estágios de ganho, é necessário
usar 3 válvulas 12AX7 para esta função. Se quisermos 8 estágios,
deverá ser 4 válvulas e assim por diante.
Apesar das válvulas de
pré serem menores, de custo mais baixo, esquentarem menos... etc.,
ganhos extremos necessitam de muitas válvulas, o que deixa o
amplificador mais sujeito a problemas mecânicos. A alternativa dos
fabricantes (execrada por muitos guitarristas) foi, inserir diodos de
clipagem no canal de maior ganho, permitindo distorções
poderosíssimas utilizando no máximo 3 válvulas no preamp.
Em alguns modelos, estes diodos podem ser ativados/desativados com
uma chave (gain boost) ou até pelo footswitch,
noutros ficam sempre em uso no canal de drive.
Isto transforma o
amplificador em híbrido? Sim e não. Quanto estiver em uso, o som é
híbrido. Quando não estiver, o som é alltube. Se o
guitarrista curte combinar pedais de boost/drive com a saturação do
amplificador, em nada se fundamenta o preconceito com estes
amplificadores, pois tecnicamente a distorção já é híbrida. Repito, minha crítica com híbridos se refere ao fato de que todos eles possuem power solid state, quando o verdadeiro "mojo" dos valvulados está na etapa de potência valvulada.
Então é isso, na
próxima coluna serão abordadas as características do power
valvulado para elucidar seu funcionamento e encerrar esta série.
Um abraço.
Elvis Almeida
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