Índice com todos os artigos da série sobre o timbre da guitarra
Aprofunde-se mais no tema, lendo todos os artigos da série:
Parte 1: Introdução - Visão Geral
Parte 2: Conhecendo o Instrumento (Guitarra)
Parte 3: Os Efeitos (pedais, pedaleiras e racks)
Parte 4: Os Amplificadores de Guitarra
Como é produzido o som da guitarra?
Parte II – O Instrumento
Dando sequência ao nosso estudo e nossa busca do timbre perfeito, falaremos agora do equipamento mais importante do setup.
O princípio do som é no instrumento... é a guitarra a responsável por gerar a onda sonora que transformada em impulsos elétricos, será transformada e amplificada até o amplificador transformar novamente os impulsos elétricos em onda sonora.
A peça da guitarra responsável pela conversão da energia mecânica (onda sonora) em energia elétrica é o captador.
Como funciona o captador da guitarra?
O captador é uma bobina, ou seja, um emaranhado de fios de cobre enrolados sobre um núcleo de ferrite ou alnico que ao receber a vibração provinda das cordas e da madeira, transforma isto em pulsos (impulsos) eletromagnéticos que serão enviados para a próxima etapa de nosso setup. Poderíamos dizer que ele é o inverso de um alto-falante.
Os microfones trabalham de forma semelhante dos captadores, porém, com uma diferença exponencial, qual seja, os microfones mais comuns possuem uma película (diafragma) que flexiona-se com o deslocamento de ar, movimentando a bobina gerando os impulsos elétricos.
Os captadores de guitarra não possuem esta bobina móvel, suas bobinas são estáticas, daí que são muito menos sensíveis que os microfones. É neste ponto que o conjunto do instrumento se torna tão importante, mais especificamente do corpo da guitarra.
Para ter-se uma ideia, o som da guitarra depende não só exclusivamente do captador, mas da corda usada, da madeira e na minha opinião do desenho usado. Quando ferimos uma corda, não é exclusivamente ela que vibra, a madeira recebe parte desta vibração e transmite para os captadores.
Daí podemos concluir que a madeira, o seu tipo, peso, tamanho e desenho do corpo são tão importantes quanto captadores e cordas.
Obviamente, que tudo é um conjunto. Cordas ruins farão com que o corpo vibre menos ou anule frequências importantes para o nosso som.
Mas não adianta nada termos captadores e cordas Top, se a madeira usada estiver anulando frequências, matando harmônicos... etc.
Desde que comecei a tocar guitarra, sem nenhuma base científica, por puro empirismo e percepção musical (ouvidos), percebi as seguintes características quanto às madeiras:
a) As frequências graves possuem melhor ressonância em corpos maiores, mais densos. O peso é uma ótima indicação para a densidade da madeira. Como dissemos a densidade reforça bastante os graves;
b) As frequências agudas possuem melhor ressonância em corpos menores e madeiras menos densas.
Mas não é só a madeira em si que influencia no timbre, as técnicas construtivas são muito importantes neste quesito merecendo nosso destaque para as seguintes observações:
a) Corpos feitos com peça única, sem emendas (one piece), tem maior sustain e deixam os harmônicos mais encorpados;
b) Braços colados possuem mais sustain que braços parafusados. Os harmônicos também ganham mais força;
c) Ponte fixa também aumenta a sustentação. As molas das pontes móveis (Floyd Rose, p. ex.) funcionam como atenuadores. A vibração das cordas nestes trêmulos é amortecida pelas molas diminuindo vibração da nota no corpo da guitarra.
Mas o mais importante que o tipo de madeira é o desenho do corpo. Eu mesmo já realizei o teste de duas guitarras com mesmo captadores, cordas e amplificador, porém com modelos diferentes. Aquela com corpo menor forneceu timbres mais pro lado dos agudos. Aquela que tinha um corpo maior forneceu um timbre com mais graves.
Os demais aspectos construtivos da guitarra, como tarraxas, trastes, acabamento, influenciam mais na durabilidade e confiabilidade do instrumento que propriamente no timbre.
Conclusão
Como a finalidade deste artigo é auxiliar o guitarrista na escolha de seu instrumento faço minha conclusão com base nas minhas experiências pessoais.
No dia a dia, já encontrei instrumentos tidos como intermediários, com madeira de 1ª linha e produzidos em peça única a preços bastante convidativos.
Neste caso não se justifica investir R$ 8.000,00 (oito mil reais) num instrumento Top, quando um instrumento de R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais) possui a mesma madeira e características construtivas. Quando isto acontece, é melhor adquirir o mais barato e trocar aquilo que é essencial para o timbre, qual seja, os captadores e cordas Top.
Na mesma linha de raciocínio não vale a pena colocar captadores top num instrumento feito de compensado. Muitas frequências importantes serão anuladas pela madeira e jamais chegarão ao captador como deveria, isto quando chegam. É como “salgar carne podre”.
Uma observação é exponencial neste momento do nosso estudo: A questão da tocabilidade também é importante para a escolha da guitarra. Do que adianta para um guitarrista na linha de Eddie Van Halen com uma guitarra sem trêmulo. O uso da alavanca se tornou a marca registrada de muitos guitarristas.
Portanto, é importante que o guitarrista ache o seu ponto de equilíbrio e que escolha o instrumento de acordo com sua “pegada” e estilo. Uma Ibanez JEM não vai ficar legal para tocar Jazz ou Rockabilly, assim como uma semi-acústica de ponte fixa não servirá para tocar Death Metal. Não é que não se possa usar uma semi-acústica para sons pesados, mas é que ela não irá fornecer o ganho necessário para quantidade de drive que o estilo pede.
Também não estou dizendo que não seja possível usar a JEM para Jazz, pois guitarra é guitarra, mas que o resultado final do timbre não será o mesmo. Ah, tem a galera que vai me dizer que é só tocar o captador... é verdade, mas irá descaracterizar o instrumento.
Alguns modelos são bem flexíveis, tendo bom desempenho em diversos estilos, mas isto também não deixa de ser um critério a ser analisado pelo guitarrista. Se ele toca apenas um estilo, é melhor comprar uma guitarra específica. Se toca vários, é mais interessante adquirir modelos mais versáteis, do que comprar uma para cada projeto.
No meu caso, por exemplo, muitas vezes sacrifiquei o sustain pelo uso da alavanca. Para mim, que durante anos toquei só com high gain a diferença na sustentação entre ponte fixa ou móvel, foi irrelevante, pois era compensada com muito ganho que usava quando tocava Heavy Metal.
Existe uma infinidade de madeiras sendo usadas para construção de guitarras. Rosewood, Maple, Mahogany, Pawlonia, Basswood... etc.
Mas não fique preso somente à questão da madeira. As diferenças timbrísticas são produto de diversos fatores. A ferramenta mais precisa para a escolha da madeira de sua guitarra é seu ouvido. Recomendo que ao comprar seu instrumento, que teste os mais variados modelos, levando em consideração não só o timbre, mas também a tocabilidade, o peso (experimente ficar 3 ou 4 horas ensaiando com um instrumento de 10 kg para você ter uma ideia), a durabilidade e por que não, a beleza.
Quando é possível conciliar todas as características que necessitamos em um único instrumento... é amor à primeira palhetada (risos).
Então é isso pessoal... espero ter contribuído para a escolha da sua próxima guitarra, como sempre sem impor nada, apenas refletindo sobre as características do instrumento.
Na terceira parte abordaremos a próxima etapa do som, os pedais e efeitos de guitarra, não por ser a mais importante, mas seguindo o caminho do som até os nossos ouvidos.
Um abraço e até o próximo artigo!
Elvis Almeida
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